segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Marchinhas de carnavais 1: Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon...

Boa Tarde Galera!


felinto-de-moraes
Felinto de Moraes (Recife, 1884 – Rio de Janeiro, 1927)
Felinto, pedro salgado, guilherme, fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das flores, andaluzas, pirilampos, apôs-fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho raul moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia

O nosso carnaval está chegando, e assim achei por bem pesquisar um pouco sobre as nossas saudosas marchinhas. Elas que sempre tocaram e ainda permanecerão tocando por muito tempo, despertando assim, naqueles que gostam deste tipo de música, um sentimento de afetividade e boas lembranças. A chamada Memória Afetiva.

Desta forma, nada mais justo do que começar homenageando o frevo Evocação nº 1, que todos nós conhecemos pelo seu início... Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon...

Neste sentido, trago abaixo algumas matérias sobre este clássico do nosso carnaval com a devida fonte logo acima da respectiva matéria.

A todos uma boa leitura e que tenhamos todos um bom carnaval!!

Rio de Janeiro, 20 de fevereiro de 2017

Hélio Santa Rosa Costa Silva.



felinto-de-moraes
Felinto de Moraes (Recife, 1884 – Rio de Janeiro, 1927)
Naquele hoje distante Carnaval de 1957,...
uma marcha-de-bloco tomou conta das ruas e salões, cantada a plenos pulmões por crianças e velhos, mulheres e homens, como a relembrar, sem querer, velhos carnavais dos anos vinte, onde reinavam as figuras de Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon, quando das saídas dos blocos carnavalescos mistos das Flores…, Andaluzas…, Pirilampos…, Apôis Fum…
Tratava-se de Evocação, um frevo-de-bloco composto por Nelson Ferreira, que se tornara o grande sucesso da Fábrica de Discos Rozenblit, fundada no Recife em 1952 e distribuidora do selo Mocambo para todo Brasil. Gravado em 1956 para o carnaval de 1957, em disco em 78 RPM nº. 15142 B, matriz R 791, foi o primeiro grande sucesso daquela gravadora, produzido no Recife e cantado em todo o país. A marcha tornou-se execução  obrigatória em qualquer festa carnavalesca e, mesmo nos dias atuais, é comum encontrar-se grupos de foliões  entoando animadamente em uma só voz: Felinto…, Pedro Salgado, / Guilherme, Fenelon, / Cadê teus blocos famosos?! / Blocos das Flores…, Andaluzas…, / Pirilampos…, Apôis Fum… / dos carnavais saudosos?.”
Declara o próprio Nelson Ferreira, em depoimento ao Museu da Imagem e do Som de Pernambuco e em texto inserido no álbum duplo Rozenblit – LPP 015/16 (1968), que Evocação nº 1 fora inspirado em figuras de blocos carnavalescos do Recife dos anos 20, então desaparecidas:
“Felinto de Moraes e Fenelon Moreira [de Albuquerque] eram do Apôis Fum; Pedro Salgado era presidente do Bloco das Flores; Guilherme de Araújo era a figura de proa do Andaluzas em Folia e do Pirilampos de Tejipió; o velho Raul Moraes era compositor,  pianista e ensaiador do Bloco das Flores, para o qual escreveu várias marchas, inclusive a Marcha Regresso. Dela usei os versos ‘Adeus, adeus minha gente / Que já cantamos bastante’. Fiz Evocação nº. 1 numa noite, de uma vez só.”
Dessas figuras citadas, notabilizava-se Felinto de Moraes (Recife, 1884 – Rio de Janeiro, 1927), fundador e principal dirigente do mais famoso bloco carnavalesco de todos os tempos, o Apôis Fum, surgido na povoação da Torre em 1925. Em depoimento ao Diario de Pernambuco, de 29 de janeiro de 1980, uma antiga simpatizante,  Ana Uzeda Luna, afirma que “o bloco congregava os melhores músicos, inclusive os componentes do conjunto Turunas da Mauricéia, conjunto vocal composto pelos maiores violonistas de sua época, entre eles Manuel de Lima (violonista cego), Alfredinho de Medeiros e seu primo Felinto de Moraes; o bandolinista Luperce Miranda (1904-1977) e seu irmão, Romualdo Miranda (1897-1930), eram a nota alta dos bandolins, enquanto Augusto Calheiros (1891-1956), que viria receber o apelido de  Patativa do Norte,  chefiava o coro”.

A orquestra de pau-e-cordas, formada por dezesseis violões, dentre eles Alfredo de Medeiros e Felinto de Moraes, bandolins dedilhados por Luperce Miranda e seus irmãos, violinos, clarinetos e outros instrumentos, era dirigida por Zuzinha, apelido pelo qual ficou conhecido o mestre-de-banda José Lourenço da Silva (1889-1952), que por muito tempo foi o regente da Banda da Polícia Militar de Pernambuco. Os ensaios eram realizados na residência do diretor Francisco Sá Leitão, localizada em frente ao atual Sesi da Torre, na Rua José Bonifácio. No repertório composições do próprio Zuzinha, Sustenta a Nota; Miguel Barkokebas, Esse bloco é meu; Luperce Miranda, Quininha e Seu Raimundo no frevo; notabilizando-se a marcha-regresso, composta por Raul Moraes, conhecida pelo título de Saudade Eternal: “Saudade, eternal! / Deixamos no Carnaval / E o Bloco Apôis Fum / Portou-se como nenhum….”.
O Príncipe das Marchas-de-Bloco, como ficou sendo conhecido, nasceu em 2 de fevereiro de 1891, na Rua da Soledade nº 25, no bairro recifense da Boa Vista, tendo falecido na mesma cidade, em 6 de setembro de 1937, na Rua Cais Ligeiro, subúrbio da Torre, segundo noticia recolhida pelo pesquisador Evandro Rabello no Jornal Pequeno, edição do dia 8 do mesmo mês.

Juntamente com o irmão, Edgard Moraes (1904-1974), Raul participou, além do Bloco das Flores, de outros blocos carnavalescos do Recife, tocando bandolim e seu mano cavaquinho, segundo informa o Diario de Pernambuco de 5 de fevereiro de 1924. Para o Bloco Apôis Fum,  compôs no ano seguinte uma das suas célebres marchas-regresso, Saudade Eternal, famosa pelo seu refrão:
A manhã já vem surgindo
Já se vê, já se vê
A luz do dia
E o Apôis Fum já vai sentindo
Vai sentindo
A saudade da folia
Saudade eternal
Deixamos no carnaval
E o Bloco Apôis Fum
Portou-se como nenhum
Foi um sonho que passou
Belo sonho, belo sonho sem igual
E o Apôis Fum só demonstrou
Só demonstrou
O fulgor do carnaval
Saudade eternal
Deixamos no Carnaval
E o Bloco Apôis Fum
Portou-se como nenhum
Segundo depoimento de Apolônio Gonçalves de Melo, in Antologia do Carnaval do Recife, o “Bloco Apôis Fum, de Guilherme Araújo e Fenelon de Albuquerque, foi considerado um dos mais finos da cidade. Na sua primeira exibição vestiram-se de palhaços brancos com botões pretos e usavam nas cabeças bonitos funis. Com boa orquestra e uma mocidade de primeira linha. Puxava o bloco um carro alegórico representando a bola do mundo com uma linda garota sobre a bola que era admirada por todos”.

Em sua primeira exibição, o Apôis Fum logo conquistou as simpatias da cidade, com os seus componentes fantasiados de pierrôs e pierretes, em cetim branco, botões negros, pompons prateados, chapéu em cone do mesmo tecido, trazendo um belo carro alegórico com uma linda jovem, portando o rico flabelo do bloco, e “uma mocidade de primeira linha”. Ao chegar em frente ao Jornal do Commercio, na Rua do Imperador, encontrou-se com o Bloco das Flores, de Pedro Salgado e Raul Moraes, que passou a executar a sua famosa Marcha da Folia.

Apôis Fum não se deu por perdido e, ao som de Sustenta a Nota, marcha composta por Zuzinha, abafou o seu rival e assim conquistou os prêmios de “Melhor Orquestra”, “Melhor Fantasia”, “Maior Conjunto” e “Mais Bela Marcha”, fazendo jus ao seu Regresso, “… e  o Bloco  Apôis Fum,  portou-se como nenhum”.

Em 1927, os Turunas da Maricéia viajaram para o Rio de Janeiro, tendo uma memorável estréia no Teatro Lírico, em festa patrocinada pelo Correio da Manhã. Vestindo à moda dos sertanejos, com chapéus de abas largas e alpargatas de rabicho, os violonistas Romualdo Miranda, Manuel de Lima, Periquito e Felinto de Moraes, juntamente com o bandolim de Riachão, acompanharam Augusto Calheiros na apresentação de cocos, emboladas, toadas e outros ritmos pouco conhecidos na Capital Federal. É desta época as gravações de Helena (Luperce Miranda) e Pinião (Luperce Miranda e Augusto Calheiros), este último,  grande sucesso no Carnaval de 1928.

Felinto, porém, já se encontrava bem doente… Naquele mesmo ano de 1927, no Rio de Janeiro, ao pressentir a chegada da indesejada das gentes, o boêmio Felinto de Moraes, falou para os seus familiares que “não ia morrer não! Ia fazer a sua última serenata…”. A cena dos seus últimos momentos é descrita com todos os seus detalhes pungentes pelo poeta Austro Costa, em um dos seus antológicos poemas, Felinto:
O Boêmio sentiu que ia morrer
Então,
vendo chegar a grande hora
de entregar a alma a Deus
(o bom Deus dos que amara e honraram a Boemia,
dos que souberam romantizar a paisagem impassível da Vida
humanizando a alma da Noite,
enchendo as ruas de canções errantes,
– fascinados do Luar, do Vinho e das Mulheres –)
não quis tristeza, não quis pranto.
Não ia morrer, ai, não! Ia fazer a última serenata…
Assim falou, no leito de moribundo,
Aos que foram ver, assistir-lhe à agonia:
seus amigos,
seus irmãos de inefáveis, românticas vagabundagens,
velhos e amados companheiros de vida alegre,
de vida boa cheia de luares e de violões…
E eles choravam. Todos choravam no quarto triste,onde a intrusa com pés de lã já penetrava.
Só não chorava o que ia morrer.
(Niágara dos olhos – mortos de vigília – da esposa alanceada!)
Fontes confusas e pasmadas de infantis olhos – coitadinhos! …)
E, no silêncio cheio de lágrimas,
O Boêmio falou de novo.
Não ia morrer, ai, não! Ia, apenas, fazer a última serenata…
– “Frazão! Romualdo! Manuel de Lima! Pernambuco!
toca a tocar! …
 Eh! lá, Calheiros! vamos cantar! …
Nada de choro! O choro que eu quero
é de violão, pandeiro, flauta, banjo,
saxofone e reco-reco (Apôis Fum !…)
Vamos, Frazão! Aquele solo maravilhoso
que você dedicou a minha filha…
Calheiros, você canta uma das suas ….
Eu acompanho ao violão…”.
Mas no quarto da Morte tudo era um soluço.
Ninguém queria tocar, cantar.
E o Boêmio, triste, pôs-se a chorar.
Pois, seus amigos, seus companheiros tão queridos,
seus irmãos de suaves, divinas loucuras
não lhe satisfaziam o último desejo?!
– “Rapazes,
vocês não parecem os Turunas da Mauricéia!
Vamos! Eu quero morrer alegre, morrer ouvindo
a alma boêmia da minha terra,
a voz, o canto do meu povo
na voz, na música de vocês!
Quero lembrar tudo o que fui na vida louca,
quero evocar tudo o que amei!
Não me façam sofrer! Quem morre é um boêmio …
Meu coração só quer cantar …
Meu violão…”
Então, no quarto triste,
onde a Intrusa, impassível, fiava, fiava,
violões acordaram na noite serena um luar de agonia,
e uma voz trêmula e bárbara, comovida,
estrangulando, num canto convulso, a alma de um soluço imenso,
redimiu, para sempre, a saudade boêmia da terra maurícia.
O silêncio que veio depois, com mão suave
cerrou do Boêmio, para sempre, os olhos doces.
 (Não ia morrer, ai, não! Ia fazer, apenas,
a sua última serenata…)
Compartilhe Compartilhe

10 Comentários

  1. Cardeal Jorge Macedo disse:
    Meu querido Bispo Leonardo Dantas: Não contive as lágrimas! A despedida de Felinto de Moraes, com o seu destemor em encarar os seus últimos momentos e a emocionante narrativa do Poeta Austro Costa, foi uma verdadeira lição de vida, no enfrentamento com a morte. A parte alegre foi o seu excelente trabalho de pesquisa recordando o grande Nelson Ferreira e os nossos tradicionais blocos e músicos famosos. Uma das minhas maiores surpresas em sua narrativa, foi a presença de Augusto Calheiros fazendo parte “ativa” deste grupo seleto de grandes carnavalescos. E por fim, a grande saudade do Mestre Miguel Barkokebas, seu vizinho no bairro da Torre e meu Professor de música no tradicional ginásio pernambucano na décade de 50 quando estudava o antigo curso ginasial. Obrigado, Mestre Leonardo, por momentos de saudades de tempos que não voltam mais!!!
  2. LEONARDO DANTAS disse:
    Jorge, meu amigo dos tempos da juventude: História e vida se confundem, por vcezes, nos meus relatos… Como o poeta Gonçalves Dias eu posso, por vezes, afirmar: “Meninos, eu vi…”
  3. Fred Monteiro disse:
    grande texto, leonardo !! e grande emoção também, pelo que isso representa na história dos blocos de pau e corda do recife e de pernambuco.. obrigado pela oportunidade!
  4. Maria Moraes disse:
    Meu caríssimo amigo Leonardo
    Muito sensibilizada, venho aqui renovar a você o meu melhor agradecimento pela postagem de um dos seus mais brilhantes artigos – FELINTO DO APÔIS FUN”, onde reverencia a memória do meu avô paterno FELINTO MORAES.
    Não satisfeito, simultaneamente, ainda postou aqui no FACEBOOK, o poema “A MORTE DO BOÊMIO”, do poeta Austro Costa, onde ele descreve, com detalhes, os últimos momentos do boêmio FELINTO MORAES, no seu leito de morte, ao som de violões e cantorias, conforme ele queria que fosse.
    Receba, portanto, o agradecimento de toda a família SOUZA MORAES, pelo que cito, a seguir, o nome de todos os netos de FELINTO (vivos e falecidos ): José de Souza Moraes Filho; Maria Moraes (Ângela Barreto), Paulo Roberto Moraes (em memória); Luiz Augusto Moraes; Tereza Cristina Ramalho Moraes; Marília Moraes Gibson Barbosa (em memória); Murilo Gibson Barbosa Filho (em memória).
    Deus o abençoe, por mais esta sua significativa homenagem ao meu vovô FELINTO, que tanto fez pelo Carnaval de Pernambuco, a quem lamentavelmente, não tive o privilégio de conhecer, pelo fato de ele ter falecido muito antes do meu nascimento. Em contrapartida, me deixou como herança: A PAIXÃO PELA MÚSICA E PELO CANTO, ALÉM DE UMA FORTÍSSIMA VEIA BOÊMIA.
    Com imensa admiração, e afeto,
    MARIA MORAES
  5. joao montarroyos disse:
    Cara Maria Moraes,
    Foi com muita alegria que vi o seu nome e seu parentesco postado nesta página, pelo importantíssimo fato de você ser uma descendente do nobre Felinto de Moraes,um bamba do Bloco Apôis Fum. Permita-me apresentar-me:sou historiador, professor, escritor e pesquisador (com algumas obras premiadas pela BLOCH EDITORES e ASSEMBL DO EST DE PE (ALEPE). Há mais de 5 anos venho pesquisando sobre o APOIS FUM, o que me valeu um artigo publicado em página PESQUISA EsCOLAR da Fundaj, conforme vc mesma pode comprovar. Sendo assim, se for possivel este contato, agradeceria imensamente que nos comunicassemos, pois muito me interessa conhecer o seu AVÔ mais de perto. Disponibilizo, para isso, o meu e-mail, q vc pode acessar sem restrições: joaomontarroyos.19@gmail.com. Fico-lhe imensamente grato pelo contato.
    Abraçio sincero.
  6. Maria Moraes disse:
    Prezado João Montarroyos
    Registro com prazer o seu significativo desejo de, nas suas dignas funções de historiador, professor, escritor e pesquisador, vir a conhecer melhor o meu amado avô FELINTO MORAES, o Felinto do Apôis Fum, através da minha condição de neta.
    Cantora, jornalista e poetisa,além de apaixonada pela cultura pernambucana, onde se reverencia os antigos carnavais do Recife, tive a honra de vir a conhecer e me tornar amiga, além de admiradora, do nosso Leonardo Dantas Silva, que homenageou o meu querido Felinto em primorosos capítulos de diversos de suas obras.
    Ausente do Recife, desde o dia 09 de novembro, só deverei retornar no dia 05 de janeiro, quando então terei o prazer de conhecê-lo pessoalmente. O seu sobrenome me é por demais familiar; acredito que através do meu pai, José de Souza Moraes, já falecido em 01 de junho2005, aos 89 anos de idade, ou pelos tios maternos, que são Cunha Barreto, filhos do desembargador Oscar de Gouveia Cunha Barreto
    Mesmo em Taubaté – SP, estarei a sua disposição para quaisquer informações que necessite sobre o meu Felinto.
    Um grande abraço e até logo mais.
    Maria Moraes
    Cara Maria Moraes,
    Foi com muita alegria que vi o seu nome e seu parentesco postado nesta página, pelo importantíssimo fato de você ser uma descendente do nobre Felinto de Moraes,um bamba do Bloco Apôis Fum. Permita-me apresentar-me:sou historiador, professor, escritor e pesquisador (com algumas obras premiadas pela BLOCH EDITORES e ASSEMBL DO EST DE PE (ALEPE). Há mais de 5 anos venho pesquisando sobre o APOIS FUM, o que me valeu um artigo publicado em página PESQUISA EsCOLAR da Fundaj, conforme vc mesma pode comprovar. Sendo assim, se for possivel este contato, agradeceria imensamente que nos comunicassemos, pois muito me interessa conhecer o seu AVÔ mais de perto. Disponibilizo, para isso, o meu e-mail, q vc pode acessar sem restrições:joaomontarroyos.19@gmail.com. Fico-lhe imensamente grato pelo contato.
    Abraçio sincero.
  7. Edmilson Filho (SSA) disse:
    Mesmo não morando a muitos anos no meu Recife (mas sempre estou visitando a cidade), sempre que meus pais ficam cantarolando essas musicas dos velhos carnavais, vejo que o pernambucano nunca perde suas raízes, talvez por isso Pernambuco seja um dos poucos Estados que onde as musicas dos antigos carnavais não seja sinal de saudosismo e sim fato de preservação de sua história, bem diferente da Bahia onde moro atualmente. Parabéns pelo Blog.
  8. Cecília Meira de Vasconcellos disse:
    Parabéns Leonardo. Gostei imensamente de tudo. Fiquei também emocionada e feliz com a descoberta do JBF. E vou recomendá-lo as minhas amizades.
  9. nivaldo clementino disse:
    Caro amigo Prof. Leonardo Dantas,
    Sou o Nivaldo, do Bloco da Saudade, nos encontramos sempre nos carnavais do bloco.
    Tenho notícia, de que o Bloco “apôis fum” foi inspirado num personagem do Diário de Pernambuco, encarregado da limpesa do Jornal, e que era “fanho” então sua forma de falar deu a inspiração aos criadores do bloco “Apôis Fum”, inclusive ele, participando da fundação do Bloco. ´Prof. Dantas, é verdade ? estou na escuta! abs.Nivaldo
  10. LEONARDO DANTAS SILVA disse:
    Nada a ver com algum fanho criado na imaginação de alguém…”Apôis Fum” nada mais é que uma expressão dos anos vinte no Recife, queria dizer “Pois sim…”; uma afirmativa em tom de mofa: “Pois sim!”… Que alguns logo abreviaram para … “Pois Fum…”

Curiosidades Musicais: NELSON FERREIRA

f59f5e512b6e6e00eb98bfefef4f851a
Nelson Heráclito Alves Ferreira (Nelson Ferreira), o “Moreno Bom”, como era carinhosamente apelidado, nasceu em 09 de dezembro de 1902 na cidade de Bonito –PE, filho do vendedor de joias e violonista amador e de professora  primaria. Aprendeu violão, piano e violino e já aos 14 anos compôs sua primeira música, a Valsa Vitória, a pedido da companhia de seguros Vitalícia Pernambucana. Daí em diante, mais Valsas, Foxes, Tangos, canções, vindo a especializar-se no Frevo. Ainda jovem tocando em pensões alegres, cafés, saraus e nos famosos cinemas Royal e Moderno do Recife. Foi o pianista mais ouvido na época do cinema mudo. Nos primeiros anos do rádio foi convidado pelo pioneiro Oscar Moreira Pinto para ser o diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, onde, além de compor, fundou vários grupos e orquestras e apresentou os mais variados programas, atingindo, com seu talento e versatilidade, todas as camadas sociais. Formou a partir dos anos 40 uma orquestra de frevos, cuja a fama extrapolou as fronteiras pernambucanas, conseguindo sucesso nacional. Também foi homem de disco, na função de diretor-artístico da fábrica Rosenblit, Selo Mocambo, instalada nos anos 50 no Recife, até então a única gravadora fora do eixo Rio – São Paulo. Nelson Ferreira é um dos nordestinos com maior numero de músicas gravadas dentro da discografia nacional, embora grande parte delas, no entanto, restringiu-se a Pernambuco e ao restante do Nordeste. Sua primeira composição gravada foi “Borboleta não é Ave”, em parceria J. Borges pela gravadora Odeon, em 1923 pelo grupo do Pimentel, como samba e pelo cantor baiano, como marcha.
A composição mais famosa, um frevo de bloco, foi “Evocação nº 1”, a primeira das 7 evocações composta por ele, e que foi sucesso no carnaval de 1957 no Rio de Janeiro, cantada em ritmo de marcha.
Nelson Ferreira compôs o hino do Bloco Timbu Coroado, que sai pelas ruas do bairro dos aflitos, no Recife, no domingo de carnaval e pertence ao Clube Náutico Capibaribe. Para este clube, fez também o frevo “Come e Dorme”, talvez a música que mais esteja associada ao futebol alvirubro pernambucano. Também é o autor do frevo-canção cazá, cazá, cazá (1955), após o pedido na época do jovem Eunitônio Edir Pereira, que anos depois iria compor o hino oficial do Sport Club do Recife. Alguns até se tornariam seus parceiros musicais como: Sebastião Lopes (O bom Sebastião), Ziul Matos, Oswaldo Santiago, Eustórgio Wanderley, Aldemar Paiva e o vitoriense Nestor de Holanda, com quem compôs “Frevo é Assim” e tantos outros famosos na Radiofonia Pernambucana. Compôs sete evocações, apreciada em todo Brasil nas quais homenageou carnavalescos, velhos companheiros, jornalistas e imortais da poesia como Manoel Bandeira, e artistas da dimensão de Ataulfo Alves, Lamartine Babo, Francisco Alves, entre outros. Sua produção, ao lado da de outros pernambucanos, como Raul e Edgar Moraes, Zumba, Levino Ferreira, Irmãos Valença, Luiz Gonzaga, Capiba e outros mais, é de importância enorme no estudo das manifestações músico-sócio-culturais da Região.
No final dos anos de 1920 suas músicas são constantemente gravadas no Sul pelos artistas mais famosos, como: Francisco Alves, Almirante, Carlos Galhado, Araci de Almeida, Joel e Gaúcho, Augusto Calheiros, Minona Carneiro e nos anos seguintes, por Dircinha Batista, Nelson Gonçalves, várias orquestras, além de intérpretes pernambucanos do maior valor, no Recife, como Claudionor Germano e Expedito Baracho.
Em sua extraordinária obra, Nelson fez adivinhações, brincou de bola de forno, de coelho sai, fez evocações, cantou a sua Veneza americana e seus tipo populares, registrou a revolução de 30 e a segunda guerra mundial, os momentos românticos, alegres e tristes, disse da natureza humana, da tradição e dos costumes de sua gente. Foi homenageado pelos varredores, prefeitos, clubes e entidades,tendo recebido a condecoração presidencial pelo presidente Médici de oficial da ordem do Rio Branco. Casado desde 1926, com dona Aurora, sua musa inspiradora durante toda a vida, confessava que os maiores orgulhos de sua vida eram ser pernambucano e poder despertar para Aurora. Hoje se encontra na Avenida Mário Melo a praça Nelson Ferreira com seu busto.
Faleceu em 21 de dezembro de 1976.
No carnaval de 1977, o clube Vassouras O Camelo, homenageou em seu carro alegórico Nelson Ferreira. Este frevo foi gravado em 1986 em um composto duplo. Outras composições de sua autoria, Dedé, Não Puxa, Morca, O dia vem Raiando, Sabe lá o que é isso, Pernambuco, Você é meu, Cabelos Brancos, Bem-te-vi, Veneza America, Arlequim, Bloco da Vitória e tantas outras mais.
EVOCAÇÃO Nº 01 – CLAUDIONOR GERMANO
Felinto, pedro salgado, guilherme, fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das flores, andaluzas, pirilampos, apôs-fum
Dos carnavais saudosos
Na alta madrugada
O coro entoava
Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho raul moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia
leo

Leo dos Monges




Bloco das Flores no Marco Zero

A apresentação, ontem, no Marco Zero, do primeiro bloco lírico de Pernambuco, fundado em 1920 por Pedro Salgado (1868/1937), teve batuque de apoteose. Ele surgiu com o nome de Bloco as Flores Brancas, dois anos depois o jornalista Guilherme Araujo, Jornal Pequeno, sugeriu Bloco das Flores. No céu uma lua nova testemunhava seus pastores e suas pastoras evoluírem com sua coreografia nota 10. Acredito que Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, Raul Moraes e Nelson Ferreira estavam aplaudindo a sua apresentação.
O português Pedro Salgado fundador do bloco (Foto: Arquivo)

Em seu primeiro ano, a agremiação desfilou com 100 moças, todas de branco, portando luvas e leques, fantasiadas à belle époque, ao som dos acordes dos primeiros frevos de bloco. Ontem o Bloco formado por 80 pessoas abriram o desfile cantando o seu hino, Marcha da Folia composto por Raul Moraes: Bloco das Flores por onde passa./ Semeia com tal graça ao som de lindas canções. / E os esplendores dessa alegria / Que as almas extasiam / E apaixonam os corações”.


Lina Fernandes, Hugo Martins, Jane Emirce, Jô Mazzarolo e José Mário Austragesilo no palco do Marco Zero (Foto: Cortesia)

Esse ano o Bloco das Flores teve como tema A Imprensa e o Carnaval de Pernambuco. A presidente Jane Emirce de Melo está de parabéns pela beleza plástica do bloco caminhando pelas ruas do Recife Antigo até alcançar o palco do Marco Zero. As fantasias das mulheres foram grifadas pela estilista Carmen Alves e as dos homens pelo alfaiate Suami Carlos Santos. A orquestra foi regida pelo maestro Macaíba e o coral por Charles Henrique.


Luzi, Simone e Fátima Alves (Foto: Cortesia)

A marcha do bloco As Flores da Noticia composta por Ricardo Andrade, “A imprensa anuncia novo editorial, / no reino da folia, vem de dia o jornal, / trazendo a alegria, numa harmonia total, / vem o Bloco das Flores trazendo o carnaval / Nossa mídia mostra os fatos, / forma opinião. / e eu já tenho a minha, / fruto da razão: / Contra o mal e as dores / o Bloco das Flores / Vem abrir seu coração”, foi a segunda musica.


Hugo Martins, Alexandre César e Jô Mazzarolo (Foto: Corrtesia)

Os homenageados foram Ednaldo Santos (Rádio Jornal), cronista social Fernando MachadoJô Mazzarolo (chefe de reportagem da Rede Globo Nordeste), Hugo Martins (Rádio Universitária), José Mário Austregésilo (Rádio e TV Universitária), radialista Lina Fernandes, Patrícia Breda (Rádio Folha), Zuca Show (Rádio Clube) e Oswaldo de Almeida cujo pseudônimo era Paula Judeu (1882/1954), do Jornal Pequeno que escreveu pela 1ª vez a palavra Frevo, em 12 de fevereiro de 1908.
Jane Emirce de Melo, presidente do Bloco das Flores (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Tendo à frente o Imperador Edmilson de Melo, e a Imperatriz Isa Alves, o Bloco das Flores encerrou cantando Evocação Nº 1, de Nelson Ferreira: “Felinto, Pedro Salgado / Guilherme, Fenelon / Cadê os teus blocos famosos? / Bloco das Flores, Andulazas / Pirilampos, Apóis Fum / Dos Carnavais saudosos / Na alta madrugada / O coro entoava / O som da marcha regresso / Que era o sucesso / Dos tempos idéias / Do velho Raul Moraes / Adeus, adeus, minha gente / Que já cantamos bastante, / E o Recife adormecia / Ficava a sonhar / Ao som da triste melodia”.


O homem do talentoNos quarenta anos de morte do maestro Nelson Ferreira, uma lembrança de como o autor de Evocação nº 1 jogou luz sobre a cena atística do estado

ISABELLE BARROS
isabellebarros.pe@dabr.com.br
Publicação: 17/01/2016 03:00
Nelson Ferreira em um baile carnavalesco no Clube Português (FOTOS: ARQUIVO/DP/D.A PRESS)
Nelson Ferreira em um baile carnavalesco no Clube Português
Há quarenta anos, a música de Pernambuco ficou em tom menor. Em 1976, o maestro Nelson Ferreira morreu e levou com ele um talento musical prodigioso, que deu origem a cerca de 600 composições, entre elas frevos ouvidos até hoje nas ruas, casas e nos clubes. Se nomes como Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon ainda são lembrados, é por causa dele e da canção mais famosa, Evocação nº 1. No entanto, a importância de Nelson Ferreira não se resume às suas composições e ao seu talento como pianista e arranjador - como se isso fosse pouco. Ele foi o responsável por revelar talentos e desbravar um espaço novo para a música pernambucana como diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco e da Fábrica de Discos Rozenblit. Na primeira, impulsionou carreiras como a de Sivuca (1930-2006), que ficou grato a Nelson até o fim da vida, e, na segunda, gravou frevos que não estariam registrados se não fossem pela sua ligação umbilical com a música pernambucana.

Nelson Ferreira já era um compositor e pianista bastante conhecido no Recife, onde morava desde um ano de idade, antes de entrar na Rádio Clube de Pernambuco, em 1931. A emissora era a única do Nordeste, e o rádio começava a se popularizar como meio de comunicação. A versatilidade do músico, por sua vez, havia sido moldada após a experiência como pianista do cinema mudo. “O trabalho musical era, na maioria das vezes, feito de improviso, para acompanhar as cenas mais distintas de comédias, dramas e romances”, explica o pesquisador Renato Phaelante. Precoce, já havia composto e editado, aos 14 anos, a valsa Vitória, para a Companhia de Seguros Vitalícia Pernambucana. Nessa época, ele também tinha a seu favor a gravação de Borboleta não é ave, em 1923, o primeiro frevo registrado pela indústria fonográfica, e várias músicas que ficavam na boca do povo durante os carnavais.

No entanto, para a jornalista e biógrafa de Nelson Ferreira, Angela Fernanda Belfort, a incursão na rádio foi uma virada fundamental. “Ao meu ver, a maior contribuição dele à cultura não foi como compositor, mas como diretor artístico da Rádio Clube, a partir de 1934. Quando ele assumiu o cargo, abriu as portas da rádio para um grupo que compunha frevos de primeira. Nelson Ferreira massificou o ritmo e a emissora tinha uma audiência enorme enquanto ele ocupou essa função. Com a execução nas rádios, surgiu um mercado local e, por isso, o frevo não se tornou uma música de gueto”. A versatilidade dele também transpareceu nas outras funções exercidas na empresa: produtor, arranjador, apresentador do programa A hora azul das senhorinhas e até radioator, além de conduzir a orquestra da estação. Fora da rádio, ainda encontrava tempo para incursões nas artes cênicas, contribuindo com músicas para o Grupo Gente Nossa, fundado por Samuel Campelo, e com o Teatro de Amadores de Pernambuco (TAP).

A visibilidade de Nelson como diretor artístico na Rádio Clube o levou a desempenhar a mesma função na Fábrica de Discos Rozenblit a partir da fundação da gravadora, em 1953. Lá, teve a mesma atitude que balizou sua atuação na rádio: se cercou dos melhores músicos disponíveis e, generosamente, deu espaço a outros gêneros musicais pernambucanos. “Nelson contribuiu para a divulgação de compositores como Antônio Maria, Aldemar Paiva, Luiz Bandeira, José Menezes. Ele também abriu espaço para a música folclórica e regional, focalizando cirandas, cantadores de coco, violeiros, repentistas, aboiadores, tornando mais importante o trabalho desses abnegados”, lembra Phaelante.

Linha do tempo

1902
Nasce, em Bonito (PE), Nelson Heráclito Alves Ferreira

1916
Teve sua primeira música editada, a valsa Vitória

1917
Começa a carreira como pianista de orquestra no cinema Pathé, na Rua Nova

1923
Nelson Ferreira tem sua primeira composição gravada, Borboleta não é ave, que é também o primeiro frevo gravado em disco

1931
É contratado como funcionário da Rádio Clube de Pernambuco

1934
É promovido a diretor artístico da Rádio Clube, posto que ocupou por 15 anos

1953
Assume a direção artística da Fábrica de Discos Rozenblit

1957
Estoura o maior sucesso do compositor, Evocação nº 1, com o qual fez sucesso no Brasil inteiro

1968
Aposenta-se da Rádio Clube

1976
Morre de aneurisma em 21 de dezembro

Fonte: Livro Nelson Ferreira, o dono da música, de Angela Fernanda Belfort

Saiba mais
Dez frevos emblemáticos de Nelson Ferreira

Frevo de saudade (frevo-canção)
Borboleta não é ave (Primeiro frevo gravado de Nelson, lançado em 1923)
Gostosão (frevo de rua)
Bloco da Vitória (frevo-canção)
Come e dorme (frevo de rua)
Evocação nº 1 (frevo de bloco)
Casá-casá (dedicada ao Sport Club do Recife)
Não puxa, Maroca (versão instrumental)
Cabelos brancos (frevo-canção, versão ao piano)
Esquenta mulher (frevo de rua)

"Ele realmente foi o dono da música. Ninguém gravava nada sem passar por ele. Eu era um ilustre desconhecido quando ele pôs meu frevo Duas épocas no disco Sua excelência, o frevo de rua, em 1965. EsSe foi o meu primeiro contato com Nelson. Era um cara muito jovem, uma pessoa com um humor espetacular. Quando Nelson morreu, fui chamado para liderar a Orquestra Nelson Ferreira, e entrei em contato com uma faceta desconhecida para mim: ele não sabia dizer não. Era legal demais e um defensor intransigente das coisas de Pernambuco. Ao tomar conta da orquestra dele, tinha o dever de seguir com a sua bandeira. Ele lutou o bom combate. O frevo não vai morrer, mas lamentavelmente as rádios não tocam. Não se sabe o que não se ouve e, se não se ouve o frevo, ninguém vai saber o que ele é. Abrimos a guarda e tomaram conta do nosso carnaval. É um crime de lesa-cultura que está acontecendo em Pernambuco.”
Maestro Edson Rodrigues

"O cantor estabeleceu uma relação longeva com Nelson Ferreira. Em 1963, o artista gravou um LP de 78 rotações que se tornou o primeiro lançamento do selo Mocambo, da Fábrica de Discos Rozenblit, com o frevo-de-rua Come e dorme e o frevo-canção Boneca, composto por Aldemar Paiva e José Menezes. “Nelson colaborou comigo em 60 músicas. Frequentei muito a Rádio Clube quando Nelson Ferreira era diretor artístico e cheguei a ser crooner da orquestra liderada por ele. Lembro que ele ficava danado da vida porque eu não acompanhava o grupo nas viagens que a orquestra fazia, já que constituí família muito cedo e tinha de fazer trabalhos paralelos para me sustentar. Após uma premiação, foi ele quem me disse que eu deveria fazer carreira solo. Ele era delicado, humilde, se vestia muito bem e era festejado onde quer que passasse”.
Claudionor Germano, cantor

O filho


Luis Carlos Ferreira, filho de Nelson Ferreira
O único filho de Nelson Ferreira, Luiz Carlos Ferreira, recebeu a reportagem em seu apartamento, no Bairro da Boa Vista. Este foi o imóvel onde o maestro passou seu último ano de vida, após ter sua casa desapropriada pela Prefeitura do Recife para o alargamento da Avenida Mário Melo, em Santo Amaro. No lugar exato do imóvel, foi criada uma praça em homenagem ao músico.

Ele era uma pessoa que tinha uma inteligência muito forte e foi subindo gradativamente de posição social. Pessoas como ele fazem muita falta quando se vão. Ele veio do nada, mas era extremamente comunicativo, talentoso e, com isso, ganhou muitos amigos. Ele era muito bem-humorado, gostava muito de trocadilhos, mas, se ele não gostava de alguém, não tinha jeito de fazê-lo falar. Ele era muito rigoroso com a música e desagradava muita gente por causa disso. Meu pai sempre me educou bem e, o que é importante, sempre viveu de música. Sua contribuição para o frevo foi muito forte - suas músicas não morrem”.

Vocação para compor

Em paralelo às suas atribuições, Nelson nunca deixou de compor. “Ele tinha uma facilidade enorme para isso, assim como Capiba”, pontua Angela Belfort. A relação entre os dois compositores de frevo mais famosos de Pernambuco é um ponto que ainda deixa margem a versões divergentes. No livro Nelson Ferreira, o dono da música, a biógrafa afirma que havia uma rivalidade cordial entre eles. Por sinal, os dois nunca fizeram parceria em nenhuma música. “Eles se tratavam muito bem, eram amigos”, afirma Luiz Carlos Ferreira, único filho de Nelson. Já o cantor Claudionor Germano, que gravou dezenas de músicas de ambos, apresenta outro ponto de vista. “Existia, sim, certa disputa entre eles. Um falava do outro e eu ficava no meio”.

Além de dar espaço a artistas locais, o compositor também usou as instalações da Rozenblit para escoar sua própria produção de frevos, fossem eles antigos ou novos. Foi justamente tendo Nelson Ferreira como diretor artístico da gravadora que a empresa emplacou seu maior sucesso em 1957: o frevo-de-bloco Evocação, posteriormente rebatizada com o nome de Evocação nº1 já que, estimulado pelo sucesso dessa música, compôs mais seis canções com a mesma temática. “Ele tinha saudade das canções entoadas pelos blocos carnavalescos dos anos 1920, que mal conseguiam sobreviver nos anos 1950. Foi a inspiração para a música. O compositor não achava que esse frevo-de-bloco ia vender, mas, ao vencer concurso da Rádio Nacional, estourou no Brasil”, diz Angela.

Nos últimos anos de vida, se preocupava com os destinos da música local. Ao se aposentar da Rádio Clube, em 1968, montou a Orquestra Nelson Ferreira, mas a concorrência com a música vinda do Sudeste, sobretudo o samba, e a crise da Rozenblit, debilitada após sucessivas enchentes que danificaram as instalações, não lhe eram favoráveis. Mesmo assim, se manteve ativo, compondo e à frente de sua orquestra até pouco tempo antes de falecer. Em 21 de dezembro de 1976, foi a vez de Nelson ser alvo de evocações e homenagens. No cortejo para o enterro, mais de duas mil pessoas. Entre elas, Evocação nº 1.

domingo, 7 de fevereiro de 2016


FOLIÃO QUE É FOLIÃO TEM QUE SABER QUEM É “GUILHERME-FENELON-E-SEUS-BLOCOS-FAMOSOS”

Por Germana Macambira e Mayra Cavalcanti




Bloco Batutas de São José, em 1981 (Foto: Antônio Tenório/Arquivo)


Por acaso você sabe quem são Felinto, Pedro Salgado, Guilherme e Fenelon? E o velho Raul Morais? Momo, calunga e os Toureiros? Embora ‘familiares’ na voz dos foliões – já que integram parte do vocabulário carnavalesco nas músicas que são entoadas durante a folia de Momo – boa parte dos pernambucanos desconhece quem é cada um deles.


Saiba, então, quem são estas e outras personalidades do nosso Carnaval:

Felinto de Moraes (Foto: Reprodução)


Felinto (de Moraes)

Em que música aparece? “Evocação nº 1

Trecho – “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos…

Violonista e carnavalesco, Felinto foi um dos principais dirigentes do bloco Apôis-Fum. A agremiação foi criada na década de 1920, no bairro da Torre, na zona Oeste do Recife. O bloco desfilava pelas ruas da cidade ao som de instrumentos de pau e corda, mas também metais.


Pedro Salgado (Foto: Reprodução)

Pedro Salgado

Em que música aparece? “Evocação nº 1

Trecho – “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos…

Português, Pedro chegou ao Recife aos 18 anos e foi dirigente e fundador do tradicional Bloco das Flores. Conhecido como “coronel”, Salgado morreu em 1937, ano em que também faleceu o “velho” Raul Moraes. Desta forma, o Bloco das Flores parou de desfilar, só retornando às ruas no ano de 2000.


Guilherme (de Araújo)

Em que música aparece? “Evocação nº 1

Trecho – “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos…

Guilherme foi, juntamente com Felinto, foi um dos fundadores do bloco Apôis-Fum. Além disto, foi jornalista do Jornal Pequeno e fundador e integrante dos blocos Andaluzas e Pirilampos de Tejipió.


Bloco Apôis-Fum (Reprodução)



Fenelon (Albuquerque)


Em que música aparece? “Evocação nº 1

Trecho – “Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, cadê teus blocos famosos…

Capitão do Exército, Fenelon foi um dos principais dirigentes do Apôis-Fum.


Raul Morais (Foto: Reprodução)

Raul Morais

Em que música aparece? “Evocação nº 1

Trecho – “Na alta madrugada o coro entoava do bloco a marcha Regresso, e era um sucesso dos tempos ideais do velho Raul Morais…

Também citado na música “Evocação nº 1”, o velho Raul foi maestro, compositor e regente. Compôs para vários blocos, incluindo os Pirilampos de Tejipió e o Batutas da Boa Vista. Apresentou-se em vários países como Argentina, Alemanha e Portugal. Um de seus maiores sucessos é a marcha “Regresso”, evocada na música de Nelson Ferreira.


Rei e Rainha do Carnaval do Recife 2015 (Foto: Sérgio Bernardo/JC Imagem)



Momo



Em que música aparece? “Hino do Elefante de Olinda

Trecho – “Ao som dos clarins de momo…

Na mitologia grega, Momo era o deus da festividade e do sarcasmo. Depois de muito “tirar onda” com outros deuses, foi expulso do Monte Olimpo, perdendo sua condição divina, tornando-se humano e transformando-se em rei. Há registros históricos do rei Momo do século 4 a.C., quando gregos e romanos utilizavam a figura dele em festas que envolviam sexo e bebidas. Momo simboliza fartura e abundância. No Brasil, a tradição de eleger um Rei Momo surgiu no Rio de Janeiro, em 1933. No seu reinado, Momo recebe a chave da cidade e a governa simbolicamente durante o Carnaval.


Mulher segurando calunga (Foto: Guga Matos/JC Imagem)



Calunga


Em que música aparece? “Leões do Norte

Trecho – “Na noite dos tambores silenciosos, sou a calunga revelando o Carnaval

Calunga ou Boneca é um elemento sagrado do Candomblé e foi trazida de Angola para o Nordeste brasileiro, sendo integrada ao Maracatu Nação, dando origem à figura central nos cortejos. A calunga é uma boneca feita de madeira e vestida com roupas suntuosas, simbolizando uma entidade. Além da calunga do maracatu, o Homem da Meia-Noite e os bonecos gigantes de Olinda são calungas.


Bloco Clube das Pás, em 1991 (Foto: Geraldo Guimarães/Arquivo)


Toureiros, Bola de Ouro, Pás, Lenhadores e Batutas de São José

Em que música aparece? “Voltei, Recife

Trecho – “Cadê Toureiros? Cadê Bola de Ouro? As Pás, os Lenhadores,
o Bloco Batutas de São José?


Blocos líricos que surgiram em Pernambuco a partir do ano de 1888. Formados por operários urbanos, desfilavam nos antigos bairros comerciais do Recife. O primeiro a surgir foi o Caiadores, que originou posteriormente o Bloco das Pás de Carvão. A agremiação mudou de nome em 1890, sendo chamada de Clube Carnavalesco Misto Pás Douradas. Depois das Pás, vieram os Lenhadores (1897); o Bola da Ouro (1915); o Toureiros (1924) e o Batutas de São José (1932).


Fonte: Fundação Joaquim Nabuco



Texto publicado na Coluna Hey! do Diário de Pernambuco, em 09 de fevereiro de 2007

É frevo, meu bem!
Neste centenário do frevo, a Hey! homenageia a música que “entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé”, como tão bem descreveu Luiz Bandeira. Preparei uma lista com os clássicos preferidos da coluna, entre frevos-canção, de bloco e de rua. Não foram incluídas obras importantes como a citada “Voltei Recife”, “Vassourinhas”, “Hino do Elefante” ou “Madeira que cupim não rói”. Inquestionáveis referências do gênero, são repetidas tão exaustivamente em bailes e troças que já se tornaram lugar-comum. Mas deixemos de lero-lero.


1  - Três da tarde (Lídio Macacão)
Tem uma imponente abertura com os metais parecendo trombetas que anunciam o Carnaval. No meio da música, os acordes voltam numa parada de causar arrepios.

2 - Ceroula de Olinda (Milton Bezerra de Alencar)
Muitos conhecem o irresistível refrão do “pá-pá-pá-pá”, mas não a engraçada letra que cita o carnaval na lua segundo os astronautas Collins e Armstrong..

3 - Último dia (Levino Ferreira)
Uma das mais belas seqüências por um naipe de metais, que flui com alegria e cadência, convite irresistível ao passo.Talvez o mais belo frevo de rua da história.

4 - Hino do Batutas de São José (João Santiago)
“Eu quero entrar na folia, meu bem, você sabe lá o que é isso?” é a senha, o convite para se perder - romanticamente falando - em uma ladeira de Olinda ou numa travessa de São José.

5 - Banho de conde (Clídio Nigro e Wilson Wanderley)
Um mal-fadado painel luminoso na praia - que não acendeu em sua inauguração - acabou sendo o mote para essa pérola de beleza e irreverência.

6 - Frevos do Recife (Antônio Maria)
Impossível dizer o mais belo dos três frevos que Antônio Maria compôs para cantar a saudade de sua terra. Saudade que também é nossa, pela distância geográfica ou temporal. O de número 1 teve uma gravação definitiva de Maria Bethânia.

7 - Ivone (Leonardo Chaplon)
O ponto alto deste frevo de rua é o raríssimo solo de tuba. Deverá ser tocada como sempre pela fantástica orquestra do maestro Lessa no bloco “Tá maluco”, que alegrará as ruas de Olinda no próximo domingo.

8 - Evocação número 1 (Nélson Ferreira)
Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon e seus blocos saudosos foram lembrados pelo gênio do maestro Nélson Ferreira, neste que é o mais lírico dos frevos de bloco. 
 
9 - Modelos de verão (Capiba)
“Quanta mulher bonita tem aqui neste salão!”, exclamava seu Lourenço neste frevo irreverente. E dava uma dica da época, ao citar as viuvinhas do artista James Dean. Capiba era pop.

10 - Hino da Pitombeira (Alex Caldas)
Uma melodiosa introdução e um refrão contagiante - que fala do “bate-bate com doce” - lembram carnavais passados e inesquecíveis. Se a turma não saísse, não havia carnaval.


 Escrito por André Balaio às 07h28
(3) Vários Comentários  ] [ envie esta mensagem ] [  ] 


11 - Evocação número 3 (Nélson Ferreira)
Antes de ser nome de rua, Mário Melo foi jornalista e notável folião, eternizado por Nélson Ferreira nesta obra-prima. E até hoje os foliões perguntam: “Cadê Mário?”. 

12 - Oh! Bela (Capiba)
Nenhuma outra música lembra tanto as matinés dos carnavais de clube, das intermináveis voltas no salão. É uma das mais alegres composições do mestre Capiba.


13 - Último regresso (Getúlio Cavalcanti)
Um dos mais melancólicos frevos de bloco, de melodia bela e complexa. Termina por também enaltecer o Recife, que tem “o carnaval melhor do meu Brasil”.

14 - Linda flor da madrugada (Capiba)
Pouca gente sabe que boninas são flores. Disfarçadas, acabaram virando um buquê que Capiba fez para sua amada. E também um dos mais doces frevos de sua lavra.

15 – Sonhei que estava em Pernambuco (Clóvis Mamede)
Uma canção que deve ser cruelmente nostálgica para os que estão longe da terrinha. É na verdade um frevo vibrante que faz um interessante contraponto com a melancólica letra.


16 - Ai se eu tivesse (Capiba)
O forte deste clássico é a melodia sinuosa que casa perfeitamente com a letra bela e triste. Inesquecível na voz do fantástico Claudionor Germano.

17 – Dedé (Nelson Ferreira)
Esse irônico frevo de 1930 deve ter sido inspiração a marchinha “Aurora” (“Se você fosse sincera...”) onze anos depois.  Ambos falam de mulheres que esnobaram amores financeiramente remediados. Antônio Carlos Nóbrega revisita “Dedé” brilhantemente em seu “Nove de Frevereiro”, com direito a belo solo de violino.

18 - Lágrima de folião (Levino Ferreira)
De melodia e harmonia exuberantes, é talvez o mais próximo que o frevo chegou do jazz. O maestro Duda e sua orquestra têm uma gravação primorosa.

19 – Valores do passado (Edgar Moraes)
Hino informal do Bloco da Saudade, este é um perfeito frevo de bloco, gênero saudoso por excelência. Para o folião sentir saudade de uma época que não viveu.

20 – É de fazer chorar (Quarta-feira ingrata) (Luiz Bandeira)
Quem é de fato um bom pernambucano sabe que este clássico representa como poucos o amor do povo pelo carnaval. E sua tristeza quando a festa acaba.


Prêmio da semana
Amanda Vieira ganhou uma super-coletânea em mp3 com discos das bandas mascaradas: The Residents, Slipknot, Gwar, Ten Masked Men e TISM. O prêmio da semana é um CD com cem frevos em mp3, incluindo os citados nesta edição. Para ganhar, escreva para a Hey!, respondendo: Qual é o autor da música que dá nome à coluna de hoje?


Raul Morais


Voltar
Raul Morais, compositor, instrumentista e regente












Raul Corumila de Morais, nasceu em  2/2/1891 Recife, Pernambuco; faleceu em 7/9/1937 Recife, Pernambuco. Compositor. Instrumentista. Regente. Era irmão do professor e compositor Edgar Morais. Com 15 anos foi aluno dos professores Marcelino Cleto e João Bandeira. Estudou piano com Arthur Marques.
Ainda jovem começou a se apresentar em diversas casas noturnas do Recife, entre as quais, o Café Chic Juventude e Cine Teatro Helvética. Em 1910 passou a atuar como pianista da dupla de cançonetistas "Os Geraldos", que naquele ano, realizaram excursão ao norte e ao sul do país.
Apresentou-se em Porto Alegre, tendo sido na ocasião convidado a ministrar aulas na Academia de Canto Musical daquela cidade. Viveu por dez anos na cidade de Porto Alegre.
Em 1920, retornou ao Recife.
Compôs marchas de carnaval para inúmeros blocos da cidade, tendo participado de inúmeros festivais de música.
Trabalhou na Rádio Clube de Pernambuco como maestro. Em 1927, sua canção "Na praia", foi gravada na Odeon pelos Turunas da Mauricéia, com Augusto Calheiros no vocal.
Em 1930 Francisco Alves gravou as marchas "Cruzes...figa prá você" e "Aguenta quem pode". No mesmo ano, teve mais dez composições gravadas. Paraguassu e Zilda Morais gravaram o samba "Meu bem vem cá", e o maxixe "Tá tudo se acabando". Elsie Houston gravou a modinha "Por teu amor, por ti", Januário de Oliveira gravou as marchas "Eu só gosto é de você" e "Regresso", e Januário de Oliveira e Elsie Houston gravaram a marcha "Tá zangadinha?".
Teve ainda a canção "Rosa do sul" gravada por Paraguassu, a marchinha "Eu só digo a você" lançada por Ildefonso Norat, a canção "O beijo", por Abgail Parecis, e o coco "Lenhadô", por Stefana de Macedo. 
Apresentou-se em diversos países, entre os quais, Argentina, Alemanha e Portugal. Entre suas composições estão marchas, valsas, hinos religiosos, foxes, dobrados e marchas patrióticas.
Em 1974, foi lançado o disco "Edgar e Raul Morais", pela gravadora Rozenblit, de Pernambuco, onde aparecem algumas obras de sua autoria, entre as quais, "Marcha da folia", "Adeus pirilampos", "Despedida" e "Batutas brejeiros", esta feita em homenagem ao Bloco Batutas da Boa Vista.
Um de seus maiores sucesso foi a marcha "Regresso", que foi evocada por Nelson Ferreira no clássico frevo "Evocação nº 1", que também homenageia seu nome, Raul Morais, antecedendo-lhe pelo adjetivo "Velho".
Em 1999 teve a sua "Marcha da folia" gravada por Antônio Nóbrega no CD "Na pancada do ganzá".
Em 2008, teve a música "Valores do passado", de sua autoria, gravada pelo cantor e compositor André Rio, no CD "Cem Carnavais", lançado através de produção independente.
Obra
Adeus pirilampos
Aguenta quem pode
Batutas brejeiros
Cruzes... figa pra você
Despedida
Eu só digo a você
Eu só gosto é de você
Lenhadô
Marcha da folia
Meu bem vem cá
Na praia
O beijo
Por teu amor, por ti
Regresso
Rosa do sul
Tá tudo se acabando
Tá zangadinha?
Valores do passado

NORDESTE / Enciclopédia Nordeste / Nelson Ferreira


  • N

Nelson Ferreira

Acervo 

www.onordeste.com


Nelson Ferreira, maestro e compositor

Nelson Ferreira
Nelson Heráclico Alves Ferreira nasceu em Bonito, Pernambuco, em 9/12/1902. Faleceu em 21/12/1976 no Recife, Pernambuco. Compositor, Instrumentista, Pianista e Regente.
Seu pai trabalhava na Joalheria Krause e sua mãe era professora.
Sua família cultuava a arte musical e ainda menino se tornou exímio pianista, tendo tido suas primeiras lições com Laura, a irmã mais velha. O irmão Luiz também tocava piano, a irmã Irena tocava bandolim, e as outras duas, Lady Claire e Olga Linda, cantavam.
Chegou a freqüentar a Escola Normal por três anos, já que os pais queriam vê-lo professor, mas a escolha pela música triunfou. Nelson aprendeu ainda a tocar violino, apresentando-se como violinista na Orquestra Sinfônica Centro Musical de Pernambuco.
Dados Artísticos
Iniciou a carreira artística aos 13 anos quando começou a tocar em cafés noturnos, apresentando-se das 20 horas à meia-noite.
Tocou na Pensão Chantecler, Pensão Mirim, Pensão Boemi e Pensão de Júlia Peixe-boi.
Apresentava-se interpretando valsinhas, polcas e maxixes, mas seu pai achou o ambiente impróprio e proibiu-o de continuar se apresentando em tais lugares.
Foi trabalhar no Café Chile, na Praça da Independência, e depois no Café Chileno, na Avenida Rio Branco, no Centro de Recife. Em 1917, aos 15 anos, teve sua primeira composição editada, a valsa "Vitória", feita por encomenda para a Companhia de Seguros Vitalícia Pernambucana.
No mesmo ano, foi convidado para atuar na sala de espera do Cinema Pathé, em Recife, fazendo acompanhamento ao piano para filmes mudos, com um salário de 150 mil-réis por mês.
Em 1919, foi convidado a integrar a Orquestra do Cine-Teatro Moderno, ganhando 7 mil-réis por dia.
A orquestra era dirigida pelo maestro Suzinha e composta de piano, dois violinos, sete clarinetas, violoncelo, contrabaixo, flauta, trompa, pistom e bateria. Pouco tempo depois, o maestro Suzinha deixou a orquestra e Nelson passou a dirigi-la.
Prosseguiu os estudos musicais, tendo aulas com o pianista Manuel Augusto dos Santos.
Em 1920, fez sua primeira composição de sucesso, a valsa "Milusinha".
Em 1922, viajou para a Europa, no navio Caxias, que fazia a rota Rio --- Hamburgo, e cujo pianista adoecera e precisara ser substituído.
Retornou ao Brasil em 1923, voltando a atuar no Moderno até o fim da década.
Em 1926, casou-se com Aurora, que seria sua grande incentivadora.
Em 1929, o Cine-Teatro Moderno foi arrendado por Luiz Severiano Ribeiro, obrigando Nelson a se transferir para o Teatro Helvética, levando consigo toda a orquestra.
O Teatro Helvética fechou e Luiz Severiano convidou a orquestra a ir para o Rio de Janeiro, oferta aceita apenas por Nelson e pelo baterista João Gama.
No Rio, foi trabalhar no Cine-Teatro Central, na Avenida Rio Branco, em cima do Café Nice, dirigindo a orquestra de variedades, em substituição ao maestro Gianetti, que saíra para concluir uma ópera.
Ficou apenas cinco meses no Rio de Janeiro, sendo levado por Luiz Severiano para inaugurar o Cine Parque em Recife.
A chegada do cinema sonoro a Recife em 1930 decretou o fim das orquestras que acompanhavam os filmes mudos. A de Nelson dissolveu-se e ele teve que ganhar a vida dando aulas de piano.
Em 1931, foi contratado por Oscar Moreira Pinto para trabalhar na Rádio Clube de Pernambuco.
No mesmo ano, a Orquestra Victor Brasileira gravou de sua autoria as marchas "Vamo chorá, nega?" e "Carrapato cum tosse".
Em 1933, foi vencedor de concurso carnavalesco, promovido pelo Jornal do Comércio, com a marcha "A virada".
Em 1934, ganhou o cargo de diretor artístico da Rádio Clube, onde fez de tudo --- regeu orquestra, tocou piano, foi produtor e locutor do programa "A hora azul das senhorinhas". Fez ainda o papel de galã na peça "Tão fácil, a felicidade", que começou o radioteatro em Pernambuco. Todos os cantores que se apresentavam na Rádio Clube eram acompanhados por ele, por ser o único pianista da emissora.
Em 1936, tornou a vencer o concurso do Jornal do Comércio, com "No passo", arrebatando também o segundo lugar com "Palhaço".
Na Rádio Clube de Recife, viveu a era de ouro do rádio pernambucano, tendo atuado ao lado de Fernando Lobo e Antônio Maria.
Acompanhou a evolução dos ritmos e modismos musicais, compondo centenas de obras variadas, entre valsas, canções, foxtrotes, shimmys, noturnos e frevos. Compôs frevos de rua, frevos de bloco e frevos-canção.
Em 1938, Aracy de Almeida lançava com sucesso para o carnaval o frevo-canção "Veneza americana", de Nelson e Ziul Matos.
No mesmo ano, Carlos Galhardo gravou o frevo-canção "Corre Faustina".
Em 1939, duas valsas de autoria de Nelson Ferreira foram gravadas por Francisco Alves: "Diga-se" e "Minha adoração".
Em 1940, Dircinha Batista gravou os frevos-canção "Não é vantagem", de Nelson e Osvaldo Santiago, e "Juro", e Almirante gravou "Minha fantasia" e "Vamos começar de novo", esta também uma parceria com Osvaldo Santiago.
Em 1944, teve o frevo "Sabe lá o que é isso?" gravado por Zaccarias e sua Orquestra.
Em 1947, Nélson Gonçalves gravou o frevo-canção "Bem-te-vi".
Em 1957, tornou-se conhecido nacionalmente com o frevo "Evocação", gravado pelo Bloco Carnavalesco Batutas de São José, e que tornou-se um grande sucesso nos carnavais do Rio de Janeiro e São Paulo.
No ano seguinte, compôs em parceria com Osvaldo Santiago o "Evocação nº 2". Nos anos seguintes e até 1964 comporia outros frevos da série "Evocação", alcançando o número de sete.
Em 1959, gravou o disco "O que eu fiz... e você gostou", onde o cantor Claudionor Germano interpreta seus frevos de diferentes carnavais.
Em 1967, aposentou-se do rádio. Criou no mesmo ano a Orquestra de Frevos Nelson Ferreira.
Em 1968, gravou o LP "O que faltou... e você pediu", novamente com o cantor Claudionor Germano interpretando frevos de sua autoria.
Em 1972, o Bloco Carnavalesco Rebeldes Imperial, de Recife, gravou a "Evocação nº 7".
Nelson foi diretor da gravadora Rozenblit, antiga Mocambo.
Em 1973, teve lançados três LPs com obras suas --- "Nelson Ferreira --- Meio século de frevo de bloco", com frevos de blocos de vários carnavais; "Nelson Ferreira --- Meio século de frevo de rua"; e "Nelson Ferreira --- Meio século de frevo-canção", todos pela Rozenblit.
Nelson compôs ainda a opereta "Sargento sedutor", com libreto de Samuel Campelo, e a peça infantil "Quando a vida sorri", com texto de Maria Elisa Viegas.
Entre os seus mais famosos frevos de rua está a trilogia "Gostosinho", "Gostosão" e "Gostosura", e mais "Come e dorme", "Isquenta muié", "Frevo no bairro de São José" e "Casá, casá", que virou o hino do Sport Club Recife.
Entre seus frevos-canções destacam-se "Borboleta não é ave", "Não puxa Maroca" e "Dedé". Compôs ainda o "Hino oficial da cidade do Recife", com letra de Manuel Arão.
Recebeu as Medalhas do Mérito do Recife e de Pernambuco e teve concedido pela Câmara Municipal o título de Cidadão do Recife, entre outras homenagens.
Em 1999 a Polydisc lançou o CD "Nelson Ferreira", dentro da série "História do carnaval", com diversas obras de sua autoria, entre as quais, "Evocação nº1", "Come e dorme", "Bloco da vitória" e "Cabelos brancos".
Obra
A canoa afundô 
A canoa virou 
A virada 
Alegria (c/ Fernando Lobo)
Altar da saudade (c/ Zeca Ivo)
Amar... e nada mais 
Ame-o ou deixe-o 
Arlequim 
Armstrong no frevo 
Beijo-te os pés, miss Brasil (c/ Osvaldo Santiago)
Bem-te-vi 
Bloco da vitória 
Bloco do Ataulfo (c/ Aldemar Paiva)
Boca de forno (c/ Ziul Matos)
Boneca (c/ Aldemar Paiva)
Borboleta não é ave 
Brincando de esconder (c/ Ziul Matos)
Bye, bye, my baby 
Cabelos Brancos 
Cabocla (c/ José Penante)
Carnaval da vitória (c/ Sebastião Lopes)
Carnaval voltô 
Carrapato cum tosse 
Carro-chefe 
Carta de Mané Trapiá (c/ Osvaldo Santiago)
Casá, casá 
Cavalo do cão não é reoplano 
Changa, changô (c/ Sebastião Lopes)
Chegou o biu das moças (c/ Sebastião Lopes)
Cheia de graça (c/ Eustórgio Vanderlei)
Chora, palhaço 
Ciranda no carnaval 
Cisma de matuto (c/ Osvaldo Santiago)
Come e dorme 
Coração, ocupa o teu posto 
Cordão da vassourinha 
Corre Faustina 
Dalila (c/ Aníbal Portela)
Dança do carrapicho (c/ Sebastião Lopes)
Dance que o frevo garante 
Dedé (c/ M. Alves)
Diarbuco oia a virada 
Didi (c/ Samuel Campelo)
Diga-me 
Dobradiça 
Dulvadiça 
É, era tudo mentira (c/ Aníbal Portela)
Ela 
Evocação 
Evocação nº 2 (c/ Osvaldo Santiago)
Evocação nº 3 
Evocação nº 4 
Evocação nº 5 
Evocação nº 6 
Evocação nº 7 
Evoé 
Excelsior (c/ Osvaldo Santiago)
Fevereiro fugiu 
Flor desfolhada (c/ Eustórgio Vanderlei)
Fortunato no frevo (c/ Sebastião Lopes)
Fox 
Fox-blue 
Foxtrote 
Frevanca em suape 
Frevo da saudade (c/ Aldemar Paiva)
Frevo na Belacap 
Frevo no bairro de São José 
Frevo no bairro do Recife 
Gostosão 
Gostosinho 
Gostosura 
Hino oficial da cidade do Recife (c/ Manuel Arão)
Homem da bengala 
Iemanjá (c/ Luiz Luna)
Isquenta mulhé 
Já faz um ano 
Já vai tarde 
Jorginho no frevo 
Josefina 
Juro 
Lá na ponte da Vinhaça 
Lalá 
Lenita 
Loucura 
Maroca só qué puxá 
Maroca só qué que Freitas 
Maroca só qué sortero 
Melodia de amor 
Minha adoração 
Minha fantasia 
Morena 
Na hora h... piano 
Nada faz mal 
Nada mais, nada menos que ventura (c/ Ziul Matos)
Não chora, pierrô (c/ Fernando Lobo)
Não é vantagem (c/ Osvaldo Santiago)
Não puxa Maroca (c/ Samuel Campelo)
Não sei dizer adeus (c/ Gil Maurício)
Não sei por quê 
Não, Pedro Bó 
Navio-gaiola (c/ Osvaldo Santiago)
Ninguém segura este Recife (c/ Aldemar Paiva)
No passo 
Noemi 
Nos bracinhos de você 
O coelho sai (c/ Ziul Matos)
O dia vem raiando 
O frevo é assim (c/ Nestor de Holanda)
O passo do caruá (c/ Sebastião Lopes)
O teu olhar (c/ Elener Janovitz)
O vento levou 
Óia a virada (Diaburco)
Oião? (c/ Osvaldo Santiago)
Onde está a minha fantasia 
Operação macaco (c/ Sebastião Lopes)
Os crisântemos (c/ Osvaldo Santiago)
Palhaço 
Pare, olhe e escute... e goste 
Peixe-boi (c/ Osvaldo Santiago)
Pelo Sport tudo 
Pergunta ao meu lenço (c/ Cilro Melgo)
Pernambucano, você é meu (c/ Aldemar Paiva)
Pescaria (c/ Osvaldo Santiago)
Pisei na gogueira (c/ Sebastião Lopes)
Porta-bandeira 
Pra você meu bem 
Príncipe das tentações (c/ Nelson Vaz)
Qual é o tom? 
Qual será o "score", meu bem? 
Quanto é bom envelhecer 
Quarta-feira ingrata 
Que é que há 
Que fim você levou? 
Qué matá papai 
Quitandeiras 
Sabe lá o que é isso? 
Se aquela noite não tivesse fim (c/ Ziul Matos)
Selo do frevo 
Senhorita Pernambuco 
Silêncio 
Sorri, pierrô (c/ Osvaldo Santiago)
Tem jeito, sanfona (c/ Aldemar Paiva)
Tirador de improviso (c/ Sebastião Lopes)
Tô te oiando 
Tu não nega ser homem 
Um carnaval a mais 
Um instante maestro 
Vamo chorá, nega? 
Vamo se acabá 
Vamos começar de novo (c/ Osvaldo Santiago)
Veneno louro 
Veneza americana (c/ Ziul Matos)
Você não nega que é palhaço 
Volta coração (c/ P. Gustavo)
Vovô, vovó eu e você 
Yo quiero el frevo 
Discografia
(1999) História do carnaval-Nelson Ferreira • Polydisc • CD
(1973) Nelson Ferreira...meio século de frevo de bloco • Rozenblit • LP
(1973) Nelson Ferreira...meio século de frevo de rua • Rozenblit • LP
(1973) Nelson Ferreira...meio século de frevo-canção • Rozenblit • LP
(1962) Nelson Ferreira com a orquestra de frevos Mocambo. Na hora H... piano/O homem da bengala • Mocambo • 78
Bibliografia Crítica
AZEVEDO, M. A . de (NIREZ) et al. Discografia brasileira em 78 rpm. Rio de Janeiro: Funarte, 1982.
MARCONDES, Marcos Antônio. (ED). Enciclopédia da Música popular brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed. São Paulo: Art Editora/Publifolha, 1999.
PEQUENA HISTÓRIA
por Renato Phaelante

Nelson Heráclito Alves Ferreira, o "Moreno Bom", como era carinhosamente apelidado, nasceu no município pernambucano de Bonito, a 9 de dezembro de 1902 e tornou-se, ao lado de Lourenço da Fonseca Barbosa, o "Capiba", o mais popular compositor de que o Nordeste tem notícia.

Seu primeiro contato com a produção musical se deu aos 14 anos, compondo, a pedido da Companhia de Seguros Vitalícia Pernambucana, a valsa "Victória". Daí em diante, Nelson só parou quando lhe pararam o coração e o pensamento. Fez valsas, foxes, tangos, canções as mais diversas, vindo a especializar-se no gênero frevo, o ritmo brasileiro mais contagiante e popular.

Nelson Ferreira teve uma passagem tão atuante quanto brilhante no panorama musical de Pernambuco. Ainda jovem, tocou em pensões alegres, cafés, saraus e nos famosos cinemas Pathé, Moderno e Parque do Recife. Foi o pianista mais ouvido na época do cinema mudo.

Nos primeiros anos do rádio em Pernambuco, foi convidado pelo pioneiro Oscar Moreira Pinto para atuar como diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco onde, além de compor, foi responsável pela fundação de vários grupos e orquestras, e ainda, produzia e apresentava os mais variados programas de rádio, atingindo com o seu talento e versatilidade, a todas as camadas sociais, divertindo-as e educando-as, provocando-lhes o gosto pelo que havia de melhor em nossa cultura musical.

Foi, um homem do disco, tornando-se diretor artístico da Fábrica Rozenblit, instalada em Pernambuco, cuja contribuição foi marcante nessa área. Criou também, a partir dos anos 40, uma orquestra de frevo que não só ficou famosa em sua trajetória local, mas também extrapolou as fronteiras de nossa região, conseguindo sucesso a nível nacional.

Seu sorriso aberto e franco, sua bondade, seu espírito nativo e criativo, valeram-lhe muitos amigos nos mais variados segmentos da sociedade. Alguns, tornaram-se seus parceiros musicais, como Sebastião Lopes, "O Bom Sebastião", no dizer de Getúlio Cavalcanti; Ziul Matos, Aldemar Paiva e tantos outros nomes famosos da radiofonia pernambucana.

Compôs sete evocações musicais, famosas em todo o Brasil, homenageando a carnavalesco, jornalistas, velhos companheiros e a outros, verdadeiros imortais da poesia e da música, como Manuel Bandeira, Ascenso Ferreira, Athaulfo Alves, Lamartine Babo e Francisco Alves.

Várias gerações, ao som da Orquestra de Nelson Ferreira e sob sua batuta, brincaram carnavais inesquecíveis. Seu frevo é eterno pela força criativa e pelo conteúdo popular. Seus amigos surgiam de todos os lados, oriundos de todas as camadas sociais, sem preconceitos, como o ferver do ritmo que o tornou imortal.

Nelson é um dos nordestinos que possui o maior número de músicas gravadas na história da discografia brasileira, embora grande parte de suas criações seja desconhecida do resto do Brasil. Sua produção, ao lado da de outros pernambucanos como Raul e Edgar Morais, Zumba, Levino Ferreira, Irmãos Valença, Luiz Gonzaga e Capiba, entre alguns outros, é de uma importância enorme no estudo das manifestações músico-sócio-culturais de nossa região.

Inicia-se na discografia nacional a partir de 1924 com a música "Borboleta não é ave", em ritmo de samba, gravada pelo Grupo do Pimentel, em disco Odeon de no 12.2381, lançada no carnaval brasileiro daquele ano. Depois, vieram as marchas pernambucanas, as valsas, os frevos, a incursão no rádio, veículo onde pode aprimorar e divulgar o seu talento, aproximando-se, o compositor, cada vez mais, pela sua popularidade na região, das fábricas de disco e dos maiores intérpretes do seu cast.

Fonte: Fundaj
Siga www.onordeste.com pelo Twitter - O melhor conteúdo sobre a região Nordeste do Brasil

NELSON FERREIRA

Palavras-chave: Nordeste



Nenhum comentário:

Postar um comentário